A construção do Palácio do Sobralinho remonta ao século XVII. Propriedade dos condes de Vila Flor, foi sucessivamente herdada pelos membros desta família por esta ordem: Primeiro Conde de Vila Flor D. Sancho Manuel de Vilhena(1); Conde D. Cristóvão que foi também do Sobral; Conde D. Martim; Conde D. Luís; Conde D. Joaquim; Conde D. António; Conde D. António José de Meneses de Noronha que foi também o 1º Duque da Terceira(2). É com o Duque de Terceira, que é muito próximo da família real (D. Maria II e o seu consorte D. Fernando II), que o Palácio do Sobralinho se torna num local de encontro da aristocracia da época. A presença dos reis por altura das festas de São João Batista de Alhandra, nas quais a Rainha D. Maria foi juiz de 1840- 1842, foi um testemunho coevo na descrição do local relatada pelo Príncipe alemão Félix de Lichnovsky no verão de 1842(3):

“O Sobralinho é uma casa de campo muito elegante, no estilo das cotages inglesas, e montada com mais conforto do que é esperar em Portugal. Em honra dos reais hóspedes tinham-se elevado alguns arcos triunfais, e construiu-se uma cidadela em miniatura, onde tremulava o estandarte vitorioso do Marechal, e donde Suas Majestades, quando entravam, ou saiam, eram saudadas por alguns tiros de peça. Uma sociedade bastante numerosa tinha-se reunido nos salões da duquesa da Terceira: várias damas jogavam o whist, e os homens tinham-se aglomerado em torno de um bilhar. Infelizmente o amável duque estava impedido de aparecer por causa de um ligeiro ataque de gota. Alguns momentos depois, entraram Suas Majestades; como no campo desaparece toda a espécie de etiqueta as damas estavam com vestidos de passeio e os homens de sobrecasaca. (…) dentro em pouco estavam prontos um faetonte puxado a quatro, destinado para Suas Majestades, algumas carruagens para as damas, e cavalos para os homens, e então partiram todos para a corrida de touros de Alhandra”.

A Quinta Municipal do Sobralinho é um belíssimo espaço, composto pela zona construída do palácio e seus anexos, e ainda pelos jardins, horta e mata. Importa percebermos que o fenómeno das quintas de recreio é muito importante no concelho de Vila Franca de Xira, na medida em que esta zona a Norte de Lisboa foi uma região por excelência de fixação da alta nobreza. Estas quintas serviam de abastecimento de produção agrícola e garantiam um ambiente de lazer e mais refrescante nos dias quentes do Verão.

Em 1661, é fundada a quinta e construído o primitivo Paço ou Palácio do Sobralinho pelo 1º Conde de Vila Flor. O edifício foi ampliado no século seguinte, para responder às novas exigências de comodidade que na época as residências deste tipo passaram a desfrutar.

Em 1830, o 7º Conde de Vila Flor e 1º Duque da Terceira empreendeu uma campanha de obras para restaurar o palácio, utilizando para o efeito uma doação de 100 contos de réis, concedidos por D. Pedro em 1835, na qualidade de Regente da sua filha, D. Maria II.

O edifício que conhecemos hoje não é o original do século XVII, nem o das ampliações dos séculos XVIII e XIX. Já no século XX, o Paço do Sobralinho chegou à posse de Armindo Monteiro, embaixador de Portugal em Londres, que procedeu a uma campanha luxuosa de remodelação do espaço. No entanto, antes ainda da sua inauguração, o palácio sofre um violento incêndio. Desta destruição ficaram apenas as paredes mestras do corpo central do edifício, a cozinha que não foi afetada, os dois torreões, a capela e o fortim(4).

A 9 de fevereiro de 1944, a propriedade é adquirida pelo banqueiro Ricardo Espírito Santo Silva, que inicia uma longa campanha de obras de restauro e decoração do palácio durante os anos 50 do século XX.

Uma das três filhas do banqueiro, Rita Espírito Santo e o seu marido Rodrigo Leite de Faria, viveram durante algum tempo no Sobralinho, adaptando a antiga Capela do Palácio à sua casa de habitação.

Os trabalhos de recuperação do edifício durante às décadas de 50 e 60 do século XX estiveram a cargo do Arquiteto Luís Possolo. A nova decoração é marcada pelo gosto pela arte antiga manifestada pela família Espírito Santo, em particular pela arte francesa do século XVIII.

Nesse sentido, os motivos decorativos de revivalismo da arte barroca rocaille estão presentes na azulejaria aplicada, quer no interior quer no exterior do palácio, por exemplo, nas paredes da zona da escadaria do vestíbulo ou ainda, nessa mesma divisão, das representações visíveis nos caixotões em madeira do teto.

Por outro lado, a influência da representação da natureza, própria do pintor francês Jean Pillement, é notória quando visitamos as salas interiores do andar nobre do palácio e observamos as decorações das suas paredes, o mesmo sucedendo com as pinturas do teto do salão nobre, todas da autoria do pintor Antero Basalisa(5).

De referir ainda o claustro que aqui vemos e que veio substituir o pátio interior antigo e foi uma solução encontrada naquela altura da reconstrução pós incêndio para fazer uma melhor articulação entre estas dependências localizadas no andar nobre.

O Paço do Sobralinho chega assim até aos nossos dias com uma aparência de palácio do século XVIII, numa realização onde foram seguidos esquemas tradicionais com monumentalidade e com um forte apego à denominada “Casa Portuguesa” de Raúl Lino(6), visíveis na sua integração na paisagem, ou na própria linha da cobertura do edifício, numa tendência historicista, favorecida pelo regime do Estado Novo e à qual o arquiteto Luís Possolo não terá ficado indiferente.

Salienta-se ainda, que por toda a casa, bem como pelos jardins, foram colocados azulejos barrocos e neoclássicos, tendo muitos deles acrescentos; muitos são cópias, produzidas na Fábrica Constância e na Fábrica Santana.

Na biblioteca do Palácio, do lado direito onde está instalada uma lareira, por detrás de uma estante de livros, fica a entrada, dissimulada pela própria estante, para um espaço que é de algum modo um esconderijo, ao qual se acede por uma escada. Conta-se que foi em tempos utilizado por Salazar como quarto secreto.

A Quinta do Paço do Sobralinho é uma das quintas Municipais existentes no Concelho de Vila Franca de Xira e desde 1993 propriedade do Município de Vila Franca de Xira. O objetivo do município com esta aquisição era aí instalar o Núcleo-Sede do Museu Municipal. Este serviço esteve ali sedeado desde 1995 até 2003 com as valências de, reservas museológicas, oficinas de montagem de exposições e restauro, oficinas do Serviço Educativo e Centro de Documentação.

Hoje em dia a autarquia aluga para a realização de diversos eventos, o Palácio e a vivenda localizada ao lado do edifício principal, que possui vários quartos e tem condições para preparação de refeições

(1) D. Sancho Manuel de Vilhena foi membro da Corte, tendo um papel militar relevante nas Guerras da Restauração.

(2) Duque da Terceira foi par do reino em 1826 e em 1829 fazia parte da Regência de D. Pedro. A 24 de Julho de 1826 entra em Lisboa como libertador, sendo mais tarde nomeado Ministro da Guerra.

(3) Boletim Cultural Cira, nº3, 1987-88, pg.156.

(4) A construção do fortim deveu-se à campanha de obras encetadas pelo 7º Conde de Vila Flor e 1º Duque de Terceira na Quinta. O fortim estava apetrechado com peças de artilharia, a fim de assinalar com salvas as chegadas do Duque da Terceira ou da Família Real.

(5) Artista da Fundação Ricardo Espírito Santo. Este pintor realizou também trabalhos para os Palácios de Queluz, Seteais, Marquês de Pombal, Museu Ricardo Espírito Santo, entre outros.

(6) Arquiteto - Personalidade única no que se refere ao panorama das artes em Portugal. Este artista português conseguiu articular a tradição portuguesa com as inovadoras correntes europeias do início do século XX.

(1) D. Sancho Manuel de Vilhena foi membro da Corte, tendo um papel militar relevante nas Guerras da Restauração.

(2) Duque da Terceira foi par do reino em 1826 e em 1829 fazia parte da Regência de D. Pedro. A 24 de Julho de 1826 entra em Lisboa como libertador, sendo mais tarde nomeado Ministro da Guerra.

(3) Boletim Cultural Cira, nº3, 1987-88, pg.156.

(5) Artista da Fundação Ricardo Espírito Santo. Este pintor realizou também trabalhos para os Palácios de Queluz, Seteais, Marquês de Pombal, Museu Ricardo Espírito Santo, entre outros.